A cultura da cana de açúcar é parte importante da história da agricultura do Brasil. Regiões de alta aptidão para a cana-de-açúcar devem apresentar temperatura média maior que 19°C, baixa probabilidade de ocorrência de geadas, chuvas bem distribuídas (a cana necessita em média de 2 a 5 litros de água por metro quadrado por dia para completar o seu ciclo) e solos com boa fertilidade, retenção de água, baixa suscetibilidade a erosão e com pouco impedimento a mecanização e ao desenvolvimento do sistema radicular. Nem sempre é possível ter todas as características em uma área.
O clima, por exemplo, é um fator que não pode ser alterado e impacta muito a produtividade. Mas, se não conseguimos controlar o clima, algumas estratégias podem ser adotadas para reduzir os impactos de condições adversas. Mesmo não estando o ambiente naturalmente favorável ao estabelecimento da cana-de-açúcar, conseguimos atingir ótimas produtividades utilizando informações técnicas adequadas e fazendo o manejo correto do solo e da cultura.
É importante lembrar que o solo é um grande reservatório de água para plantas. A água fica estocada em pequenos poros, alguns destes menores do que um fio de cabelo, e que vão se enchendo ou esvaziando, de forma geral, conforme ocorrem as chuvas ou se as plantas absorvem água. A manutenção da estrutura do solo de forma a preservar estes pequenos “reservatórios” é fundamental para que a cana tenha água disponível durante todo o seu ciclo.
O preparo correto do solo e a sistematização da área com curvas de nível, terraços e outras estruturas que levem em conta características de relevo e clima, previnem a perda de solo por erosão, permitem que a água da chuva infiltre com maior velocidade, criam condições para a manutenção da porosidade e tudo isso facilita o desenvolvimento de raízes e absorção de água pelas plantas.
Mas não é só a parte física que conta para boas produtividades. Além de ser um reservatório de água, o solo também estoca nutrientes que desempenham funções específicas nas plantas. A correção da fertilidade dos solos, além de garantir o desenvolvimento vegetativo da cultura, é também uma forma de permitir que as raízes se desenvolvam não só na superfície, mas também em camadas mais profundas.
Uma forma prática de demonstrar a importância do aprofundamento das raízes pode ser calculada da seguinte forma: para a maioria dos solos brasileiros, a cada centímetro que o sistema radicular de uma planta se aprofunda este encontra o equivalente a cerca de 1 litro de água por metro quadrado de solo. Assim, considerando um hectare de cana-de-açúcar, a cada 1 cm que o sistema radicular se aprofunda no solo estarão disponíveis para as plantas cerca de 10.000 litros adicionais de água. E como vimos, garantir não só a boa fertilidade dos solos mas também a disponibilidade de água para a cana-de-açúcar durante todo o ciclo é fator crucial para o sucesso da cultura.